Esse é um tema que tem me assaltado há alguns dias e por dois motivos:
- o primeiro, a própria idéia de publicar esse blog, um espaço onde eu possa trocar idéias com amigos e articular meus pensamentos e que, de algum modo, coloca em cheque para mim o limite de até onde um psicologo pode se expor ou deve se obrigar ao "low profile";
- o segundo, pela mudança do conceito de privacidade num mundo em que a todo momento somos filmados, fotografados, "blogados", "twitados", "formspringados" e etc. (voluntariamente ou não).
Por vicio de formação sempre que me vejo nesse tipo de dilema defendo o caminho do meio (meden agan), porem esse nem sempre é fácil de se encontrar.
Do ponto de vista técnico, há muito está conceituado o principio de transferência e contratransferência como parte fundamental do processo de psicoterapia.

Isso equivale a dizer que, de certa forma, a exposição do terapeuta ao paciente "rouba" desse último um espaço projetivo, criativo, de apropriação e transformação da figura do analista.
É fundamental que o analista permita que seu paciente o crie e, portanto, há um limite para a exposição. Se essa exposição é tal que o terapeuta não fornece espaço para o paciente, então o mesmo pode estar se inviabilizando.
Porem, vale a pena lutar contra as investidas do paciente e/ou se privar das capacidades fornecidas pela tecnologia atual? Penso que não.
Ou, pelo menos, penso que depende da abordagem terapêutica.
Aqueles psicólogos que priorizam o posicionamento do analista no processo terapêutico devem fazer o sacrifício e se abster da exposição.
Mas aqueles que priorizam o "gesto" não podem e não devem ir pelo mesmo caminho. Pela simples razão de que, antes de tudo, o paciente vai procurar nesses a referência de sinceridade e possibilidade de existir sem o falso self.
Na minha clínica meu paciente, ou meu cliente, deseja antes de tudo interagir com outro ser humano. Um que o acolha integralmente, mas tambem alguem que tenha idéias, desejos, fantasias, vida!
Dentro dessa interpretação, diria que eu não posso me abrir para meu paciente, mas tambem não posso me fechar. Me fechar totalmente seria a negação de minha identidade, prejudicando o atendimento tanto quanto no excesso de abertura.
Penso que os pacientes sempre nos prescrutaram. Só que, agora, alem dos títulos, do consultório, da aparência física e de tantos outros atributos com os quais os pacientes especulam os analistas, juntaram-se os perfis em redes sociais, blogs e etc.
Nosso desafio, ao invés de fugir dessas ferramentas, é permanecer íntegros, mesmo expostos a elas.
Bem, e a parte da privacidade como conquista social, como prega Coutinho?
Sobre isso falo depois. Ou não! (se eu desejar manter meus pensamentos privados...)